sábado, dezembro 22, 2007
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Puzzled
Atiradas sobre a mesa
em cartão recortadas
as peças do teu puzzle
muito baralhadas
Comecei por enquadrar
para ver quanto medias
era preciso paciência
ia demorar uns dias
Mas tu ajudaste muito
construíste o que sabias
agora faltavam uns buracos
que tu não preenchias
Mas a peça que faltava
para terminar o teu retrato
estava algures perdida
caída no chão do quarto
Tu, como toda a gente,
és um puzzle completo
viver é aprender a pôr
as peças no sítio certo.
quinta-feira, dezembro 13, 2007
Nunca mais amarei quem não possa viver sempre - Sophia de Mello Breyner
LAMENTAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL
“A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser.
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência.
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.”
(Sophia de Mello Breyner)
domingo, dezembro 09, 2007
Eu não
sexta-feira, dezembro 07, 2007
O teu abraço
domingo, dezembro 02, 2007
Umas vezes me espanto, outras me envergonho!
Um soneto de amor (Sá de Miranda)
Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando como em sonho.
Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m´espanto às vezes, outras m´avergonho.
Que, tornando ante vós, senhora, tal,
quando m´era mister tant´outr´ajuda,
de que me valerei, se alma não val?
Esperando por ela que me acuda,
e não me acode, e está cuidando em al,
afronta o coração, a língua é muda.
Li uma citação deste soneto no Abrupto e de imediato percebi o que sentia. Decorreu este fim de semana a entrega de prémios do Festival de Microfilmes de Lisboa.
É efectivamente espantoso que se tenha a coragem de levar para a frente uma iniciativa destas, que proporcionou que mais de 500 obras viessem a público. Uma iniciativa rara destas em terras portuguesas é de espantar qualquer um.
Mas envergonho-me de ter incentivado tanta gente a participar, e ver que no final o filme escolhido para representar o espírito deste festival tenha sido vergonhoso. A ver: não é original, não tem qualquer relação com o nosso país, é um filme narrado em francês legendado em inglês. Diz ter sido feito com um telemóvel, mas a legendagem levanta grandes interrogações quanto a isso. Não tem qualquer mensagem e num festival que excluía filmes com os conteúdos pornográficos ou violentos, a temática da agressão gratuita do Zidane ao Matterazi é a narrativa deste microfilme - uma vergonha!
Espanto ainda senti quando não quis acreditar que fosse verdade o que estava a ver, mas envergonhei-me de não ter percebido que um festival organizado pelas "Produções Fictícias" não era para ser levado a sério!
Esta situação afronta o coração e deixa a língua de Camões, mais uma vez muda.
Moral da história: se num festival chamado Microfilmes Lisboa o trabalho nacional não é reconhecido, onde será?