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quinta-feira, outubro 29, 2009

Muros - As palavras são pontes.



Imagem retirada daqui


As palavras são pontes por cima dos muros.
São navios sulcando o mar
São sonhos, são desejos, são segredos,
São criatividade, são amizade, são confiança,
São sensações novas.
E as palavras escrevem livros,
Idealizam filmes
Criam canções
Pintam quadros
As palavras nascem de todo o lado
Brotam de um texto,
De uma imagem,
De um som,
E saiem dos meus dedos,
Dos meus lábios
E dos meus olhos,
Para que as vejas,
Para que te beijem
Para que te toquem
E te acariciem.
Para te fazer sentir,
Para te fazer adivinhar
mais do que dizem,
o todo imenso que fica por dizer.

domingo, outubro 25, 2009

Muros - Chão, bancos, cadeiras e poltronas.


Foto de Paulo Pimenta in Blographo


O trono do rei gordo,
por maior que seja,
é cheio até ao bordo,
o espaço não sobeja.

O senhor marquês,
na sua poltrona,
vai alternando a vez
com a sua matrona.

Até as bancadas,
lá do parlamento,
têm almofadas
em cima do assento.

E o Zé Ninguém,
que é gente vulgar,
tem uma cadeira
para se sentar.

Há quem use os bancos
de um modo especial,
eu sento-me e peço
um prego e uma imperial.

Depois ainda há gente,
de mais baixa condição,
que dispensa a cadeira
e senta-se no chão.

Se não há diferença
no homem todo nu,
porquê dar importância
a onde ele põe o cu?

quinta-feira, outubro 15, 2009

Muros - Não me deixei vencer


Pic: http://www.claybennett.com/images/archivetoons2/us_border.jpg



Naquele dia chegaste sem alegria no rosto
e o olhar vazio de quem já não está.
Fizeste um traço no chão
e eu fiquei do lado de cá.
Tinhas tábuas compridas
Novinhas, polidas, em pinho tratado.
Cavaste um fosso
por cima do risco que tinhas traçado.
Num saco trazias martelos, gazuas,
e um berbequim.
Arrancaste a relva,
furaste a terra, estragaste o jardim.
Saltavam aparas, tábuas pequenas,
e pregos partidos.
E em pouco tempo ficámos divididos.
Deixei de te ver, escondida que estavas
pela paliçada.
Não me deixei vencer,
E com os restos caídos eu fiz uma escada!


"Muros" é um projecto Homens Felizes

segunda-feira, outubro 05, 2009

Muros - Fronteira


Post original aqui.


Desenhei um traço no chão
De um lado um irmão
Do outro, outro irmão.

De um lado ficaram os altos
Os loiros, os magros
Os de olhos claros,
Os de cabelo liso!
Do outro, ficaram os baixos
Morenos, entroncados
De olhos escuros
Cabelos encaracolados.

Proibi palavras e gestos
Cantigas sabidas de cor,
Proibi os olhares ternos
Os desejos e o Amor.
De um lado havia dinheiro
Roupas e o que comer
Do outro era tudo um jogo
Ter de vencer ou morrer.
Dividi países, cidades, ruas,
Construí muros, cavei valas,
E na terra de ninguém
Semeei minas e chovi balas.

Por fim dividi-me a mim,
Pelo meio do coração,
Descobri que a fronteira,
Não é um traço no chão!