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quarta-feira, dezembro 19, 2007

Puzzled


Quadro de Bret Zarro

Atiradas sobre a mesa
em cartão recortadas
as peças do teu puzzle
muito baralhadas

Comecei por enquadrar
para ver quanto medias
era preciso paciência
ia demorar uns dias

Mas tu ajudaste muito
construíste o que sabias
agora faltavam uns buracos
que tu não preenchias

Mas a peça que faltava
para terminar o teu retrato
estava algures perdida
caída no chão do quarto

Tu, como toda a gente,
és um puzzle completo
viver é aprender a pôr
as peças no sítio certo.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Nunca mais amarei quem não possa viver sempre - Sophia de Mello Breyner

LAMENTAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL

“A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser.
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência.
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.”

(Sophia de Mello Breyner)

domingo, dezembro 09, 2007

Para sempre

O Amor é para sempre.
Quem já não ama é porque nunca amou!

Eu não


"Uns homens dão e outros homens tomam, uns homens compram e outros homens vendem. Eu não. Tudo o que me interessa é o amor e matar a sua sede." de um conto Árabe

sexta-feira, dezembro 07, 2007

O teu abraço



Recordações, sentimentos, medos
dois corpos num mesmo espaço,
sensações, emoções, segredos,
e tudo o mais que se troca num abraço.

domingo, dezembro 02, 2007

Umas vezes me espanto, outras me envergonho!

Um soneto de amor (Sá de Miranda)

Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando como em sonho.

Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m´espanto às vezes, outras m´avergonho.

Que, tornando ante vós, senhora, tal,
quando m´era mister tant´outr´ajuda,
de que me valerei, se alma não val?

Esperando por ela que me acuda,
e não me acode, e está cuidando em al,
afronta o coração, a língua é muda.


Li uma citação deste soneto no Abrupto e de imediato percebi o que sentia. Decorreu este fim de semana a entrega de prémios do Festival de Microfilmes de Lisboa.

É efectivamente espantoso que se tenha a coragem de levar para a frente uma iniciativa destas, que proporcionou que mais de 500 obras viessem a público. Uma iniciativa rara destas em terras portuguesas é de espantar qualquer um.

Mas envergonho-me de ter incentivado tanta gente a participar, e ver que no final o filme escolhido para representar o espírito deste festival tenha sido vergonhoso. A ver: não é original, não tem qualquer relação com o nosso país, é um filme narrado em francês legendado em inglês. Diz ter sido feito com um telemóvel, mas a legendagem levanta grandes interrogações quanto a isso. Não tem qualquer mensagem e num festival que excluía filmes com os conteúdos pornográficos ou violentos, a temática da agressão gratuita do Zidane ao Matterazi é a narrativa deste microfilme - uma vergonha!

Espanto ainda senti quando não quis acreditar que fosse verdade o que estava a ver, mas envergonhei-me de não ter percebido que um festival organizado pelas "Produções Fictícias" não era para ser levado a sério!

Esta situação afronta o coração e deixa a língua de Camões, mais uma vez muda.

Moral da história: se num festival chamado Microfilmes Lisboa o trabalho nacional não é reconhecido, onde será?