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quinta-feira, julho 21, 2016

Si-Len-Si-Oh!


Sinto que chega
numa vaga escura
um vazio que tudo enche

Já as palavras agoniam
degoladas e sem sentido

Lá longe,
as teclas de um piano a arder.

Deixando silêncio
no que ficou por ser.

segunda-feira, julho 04, 2016

Malaposta - Um pólo de encontro dos agentes culturais.


Cresci a ver teatro, aprendi fazendo teatro, ensino a fazer teatro. Tive o privilégio de me ter sido apresentado o projecto do Centro Cultural da Malaposta (CCM) em 1988, numa reunião da Amascultura com os grupos de Teatro Amador dos concelhos de Loures a que pertencíamos, Amadora, Vila Franca de Xira e Sobral de Monte Agraço. 

O CCM nascia para lutar contra a alienação cultural que resultava da massiva distribuição de produtos de baixo conteúdo formal e ideológico. Fixando residência naquele espaço, o projecto envolvia as escolas secundárias dos quatro concelhos, bem como as associações culturais e os grupos de teatro amador e fomentava a ligação das populações locais a um espaço de criação e divulgação de cultura. 

Este espaço, com este objectivo, é hoje tão ou mais necessário que em 1988. A saúde, a educação e a cultura são o investimento público fundamental de uma sociedade e o seu retorno não é financeiro porque não tem preço! É o nosso património, é a génese da nossa identidade, é o que nos define e faz de nós quem somos! 

É com carinho e encanto que olho para aquele edifício onde inúmeras vezes entrei como espectador, mas onde também estive, como aluno, como professor, como actor e como encenador. Gostava que os meus filhos se identificassem com ele como eu me identifico! Não foi a população de Odivelas que voltou costas ao CCM, foi a Municipália que se esqueceu da razão de ser daquele centro e fechou as portas às associações, aos grupos de teatro amador e à população em geral. 

A cultura faz-se em todo o lado: na rua, nos bairros, nos cafés, nas escolas, nas associações, na SMO ou na Casa da Juventude, mas o CCM é o polo centralizador onde os agentes culturais do Município e da Área Metropolitana de Lisboa se encontram – e isso não se pode perder!


Alexandre de Oliveira

(ON - Odivelas Notícias, 30 de Junho de 2016) 

sexta-feira, abril 22, 2016

Tenho de ti uma saudade louca...

Escrevo-te, mesmo que não me leias

Hoje fizeste-me falta, como todos os dias. Mas hoje não foi só saudade, não foi só a vontade egoísta, não foi nenhuma dúvida sobre a água no refogado, nem daqueles cheiros que me devolvem ao teu colo. Hoje queria apenas partilhar contigo o bom dia que tive. As pessoas que vi, que ouvi, que falaram dos valores que me deste e da liberdade que me ensinaste a amar. A minha colega Elisabete, de história a tua disciplina favorita, organizou um painel de testemunhos sobre o 25 de abril. Terias gostado de estar lá, não só para falar como para ouvir Luísa Castel-Branco,  Samuel, Maria do Amparo ou os combatentes do ultramar. O tempo passou por eles, estão porém fortes, lúcidos e vivos!
Foi um privilégio que tive esta manhã. Gostava de  partilhar contigo, porque o que é bom não se deve desfrutar sozinho... foi também bom para os garotos!

Tenho de ti uma saudade louca!

quarta-feira, março 23, 2016

segunda-feira, março 21, 2016

O sol que há em ti.




As tuas mãos são um verso
de um poema de amor
os teus olhos são lume
o teu seio fervor
o teu olhar infinito
o teu sorriso luminoso
a tua boca é um lago,
onde me sacio, gostoso.
Teu corpo todo inteiro
um livro de poesia
que guarda, bem lá no meio,
um sol cheio de alegria.

Debaixo da tua pele
num arrepio infinito
há um sabor a mel
que se liberta num grito
Depois abraçados
mal cobertos com o lençol
é o teu olhar que brilha
à luz desse teu sol!

Se sol é luz infinita
é também vida e calor
Se o desejo em ti me agita
meu sossego é o teu amor...

quinta-feira, março 03, 2016

A morte de Rodrigo Lapa

Foto da página do Facebook:
Até sempre Rodrigo Lapa 
Negra ave de passagem
num céu metalizado
Um alerta sobre o jovem 
que não foi localizado

Uma mãe nas noticias
sem muito ar de sofrer
Não sabe onde está o filho
Mas também não quer saber

Há alguém preocupado
que o procura sem cessar 
Uma foto na internet 
Há um rosto a divulgar

Rapaz jovem, como outros
Com uma mãe e com um pai
Que depois do almoço 
Para a sua escola vai

Só quem nunca teve 15
quem não foi adolescente
é que não sabe a energia 
que na altura invade a gente

Estamos sempre a descobrir
Coisas novas sobre nós
Às vezes queremos companhia
Outras queremos ficar sós

Somos gente a crescer
estamos em terra de ninguém 
Já não somos criancinhas 
E nem adultos também

Quando o rapaz vai crescendo
Vai a voz engrossando
Vai fazendo muita asneira
Uma vez de quando-em-quando

O amor e a paciência
Nunca faltam aos nossos pais
E àqueles que nos amam
Nós pedimos sempre mais

O amor é um valor 
Que distingue a humanidade
Quem o outro não amar 
Não é gente de verdade

Há pais de coração 
Que nos amam como filhos
Que nos ajudam a safar 
Quando estamos em sarilhos

Mas aqui não foi o caso
E isso custa a entender
Onde está o amor de mãe 
No coração desta mulher? 

Tem o filho já sem vida
A poucos metros de casa
Vai disfarçando a coisa
enquanto o amante baza? 

Foge o tipo pró Brasil 
Depois de morto o rapaz... 
Mulher, era o TEU FILHO
Como tu foste capaz? 

Acredito que nascemos 
todos para a felicidade 
Mas ao ouvir esta história
não sei se será verdade

Espero não estar a ser injusto
Com ela nem com ninguém
Mas uma mulher assim
Estraga a palavra Mãe! 









  

terça-feira, março 01, 2016

Sal (a Cristina Abreu)

















Na boca nos olhos na pele
O mar frio e salgado
Corais intensos desafios
Abismos não explorados

Areia que o Sol afaga
Ardente como um beijo
Molha-se em cada vaga
Num vai-vém de desejo

São esses olhos teus
Num sorriso sensacional
Forte intenso, feito vida
Temperado com esse Sal

Há um segredo escondido
P'ra quem quer saber (a)mar
Já diz o mestre antigo
Nele tens de mergullhar

O amor em cada dia
Cria felicidade e paz
Nos momentos de alegria
A cada abraço que dás! 



1 de Março 2016


Alexandre




 





terça-feira, fevereiro 02, 2016

A pedra



Havia no largo da aldeia uma pedra onde o meu avô se sentava
Havia, no mesmo largo,um bebedouro onde a bestas bebiam
Havia mais acima um chafariz, de água férrea e fresca.

A água do chafariz era guardada no corredor escuro
Numa talha de barro, da qual nos servíamos num púcaro de alumínio
Em pequenas mas saborosas doses.

As cabras que passavam no largo da aldeia não podiam beber no chafariz das bestas
As cabras bebiam na ribeira durante a pastagem

Mal eu sabia a lição que estava a aprender:

Alguns contentam-se com a pouca água que conseguem
Os que querem ou precisam de beber mais têm de ir para longe
Porque o grande bebedouro está reservado e só as bestas de lá podem beber

E o meu avô, sentado na pedra, já tinha visto isto tudo!