Tocou o telefone, do outro lado da linha ela sorrindo dizia, parece que afinal não acabou...
E era verdade, não acabou mesmo. De uma maneira estranha, isto deixava-me triste! Com o meu fatalismo português, este fado que nos faz abrir garrafas de vinho tinto e comer broa de milho encharcada em gordura de sardinha assada e azeite, acreditava piamente que ela o veria. Talvez eu não, mas ela sim o veria. Mais uma vez ponho em causa a imortalidade. Já não bastara há uns anos, essa supresa que me deixou atónito, falecera Fernado Pessa! O jornalista que relatara durante a segunda guerra mundial os bombardeios a Londres como se fossem jogos de futebol, e que eu julgara ser eterno. Pensei que seria ele a entrevistar todos os meus amigos no centenário da minha morte, mas afinal também ele morreu, nem o pedalar na bicicleta todas as amanhãs o manteve eterno... Mas agora fiquei surpreso... ela esperava que eu atendesse o telefone. Mas estes momentos de absoluta consciencia da insustentavel leveza de se ser... são para ser vividos sozinho... quando por fim o telefone se calou, tomei uma vez mais consciencia que estava vivo, que as noticias ainda decorriam e que lá fora a noite, apesar de ventosa continuava, tranquila. Abandonando-me nos braços de morfeu ainda me apeteceu confirmar-lhe: Afinal não acabou, mana...
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