Canção (Cecília Meireles)
Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo...
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo...
Se a vida é curta, intensa e bela, mas irremediavelmente curta. Falhamos quando não a saboreamos plenamente em todo o momento. Amar, essa urgência natural do ser pensante, que é no fundo a única razão de se ser. Pois o amor é, nada mais que a propria vida. Nele se gera vida, sem ele não há vida.
Quando passamos um dia a fugir do amor, estamos a fugir da própria vida, do sabor do que é ESTAR VIVO.
Amar é a aventura de viver, o momento, o tempo. Quando magoamos quem amamos, quando sentimos e negamos, quando para justificar a razão de não amar inventamos e imaginamos, estamos à espera de um amanhã em que tudo será diferente... e talvez até seja. Mas perdemos o hoje, negamos o desejo e pode ser que amanhã eu morra e já te não vejo!
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