Nas noites de verão sentava-me com o meu avô, naquela pedra lisa que havia no largo. E ele ía-me dizendo o nome das estrelas, que eram muito mais que alguma vez eu imaginara em Lisboa. A mesma pedra onde a minha avó afiava as facas com que cortava com mestria a cabeça às galinhas. Ainda os vejo muitas vezes na minha memória de menino. Era uma aldeia parada no tempo, uma lição de força, coragem, de sobrevivência na adversidade. Nunca vi um mapa, por mais detalhado que dessa aldeia mostrasse o nome. Mas o meu pai ensinou-me a descobrir o ponto onde a estrada nacional cruzava a ribeira do Alvito, e dizia-me apontando o dedo com a voz embargada numa emoção que me arrepiava: é aqui o Casal da Ribeira.
retirada do site http://casaldaribeira.com.sapo.pt/
Eis que dou com o nome da aldeia do meu pai nas noticias. Parece que uma barragem a ser construida no Programa Nacional de Barragens com Elevado Potêncial Hidroeléctrico vai beneficiar aquela zona. O que as lágrimas dos aldeões não conseguiram fazer faz a barragem. Encontrei um site em que se pode espreitar para aquele vale, e um texto sentido de quem vê as suas origens e as suas lembranças a serem afogadas a bem do progresso. Não há gravuras que salvem esta aldeia, é mais uma a juntar à Aldeia da Luz e ao Vilarinho das Furnas e a tantas outras, resta-nos a esperança de que a memória não morra. Mas morre a esperança de um dia eu me sentar na mesma pedra e dizer ao meu neto onde ficam as Ursas e o Sete Estrela.
Sem comentários:
Enviar um comentário