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quarta-feira, julho 09, 2008

Pendular


Tique taque tique taque

à hora marcada
o comboio partiu
Como um animal
um silvo emitiu

Acelerou na linha
o quanto podia
cá fora o motor
forte rugia

Sentada à janela
a ler descansada
olhar distante
pose relaxada

e a composição
esse monstro enorme
comia quilómetros
saciando a fome

Havia crianças
num reboliço
e um tipo saloio
que cheirava a chouriço

Havia meninas
com óculos escuros
e homens de fato
com ar de duros

Havia poetas
procurando a rima
Um rapaz olhava
uma corada menina

Na curva da linha
o comboio agita
e a velha que dorme
acorda e grita

Corado arfando
o velho galifão
olhos esbugalhados
sofre do coração

Chegou um surfista
com um ar de Apolo
e logo um maricas
sentou-se-lhe ao colo

E o comboio parou
ao chegar ao fim
saíste dali
sem olhar pra mim

Mas se hoje ao deitar
tiveres a cama fria
liga ao rapaz do pendular
para te fazer companhia

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